quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Obrigada por terem existido!

Em final de mês, recordamos alguns escritores portugueses que ainda permanecem na nossa memória através da sua escrita e que nasceram no mês de fevereiro.

Ruy de Moura Belo - 27 de fevereiro de 1933
Poeta e ensaísta português.

Poema Quase Apostólico

Está sereno o poeta
Desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

José Joaquim Cesário Verde - 25 de fevereiro de 1855
Poeta considerado um dos precursores da poesia que seria feita  em Portugal no século XX.

Heroísmos 
Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o largo mar, rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e n'água quase assente,

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'


Joaquim Teófilo Fernandes Braga - 24 de fevereiro de 1843
Político, escritor e ensaísta. Autor de obras de história literária, etnografia, poesia, ficção e filosofia, considerado o introdutor do Positivismo em Portugal.

“Temos muito que fazer mas nada de pompas como na realeza; somos do povo e como elle devemos viver ! A republica nao se fez para imitações ridículas; cada vez é mais necessário dar lições de civismo, voltar para os humildes as attenções; só assim podemos fixar o regimen pelo qual os pobres com tanta fé e com tanto enthusiasmo luctaram. Simplicidade tem que ser uma das grandes forças da democracia!”
in entrevista na revista “Ilustração Portuguesa”

David de Jesus Mourão-Ferreira - 24 de fevereiro de 1927
Escritor e poeta, destacado como um dos grandes poetas contemporâneos do séc. XX.

Soneto do Cativo
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética”


Sem comentários:

Enviar um comentário