Há uma linha em Lisboa que não separa coisa nenhuma. As linhas (no
plural, de resto) estão em toda a parte: nas cordas da roupa que seca à
janela ao cheiro do vento, no fio de nylon dos já poucos pescadores à
beira-Tejo, no teto verde claro dos táxis que se mantêm fiéis às cores
não beges a que durante anos nos habituaram, nos carris dos elétricos –
os que se usam e os que já só transtornam, nas linhas das folhas de
jornais que se enchem de castanhas por tuta e meia, nas linhas do sol a
atravessar a Estação do Oriente, na gaita que o amolador sopra da sua
bicicleta.
As linhas em Lisboa só aproximam, não separam. Lisboa tem um norte e
tem um sul mas esse equador só separa o tempo; tem uma esquerda e uma
direita que marcam apenas lugares no Palácio de São Bento; tem um cima e
um baixo, mas só os usamos para dividir os feitios aluados
dos terra-a-terra.
No final do dia, do ano, quando chega Dezembro, estamos todos alinhados: somos todos lisboetas.
Esta semana temos a Mostra do Cinema da América Latina, documentário dos 25 anos dos Censurados e uma Festa de Natal que celebra a criatividade.
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